Artigo: “Mitos e Verdades do 07 de Setembro” – Des. Valério Chaves

Publicado por: Fernando Castelo Branco - DRT 1226-PI

 
 

 

A partir do aprendizado no ensino fundamental muito de nós conhecemos a história do Brasil e dos nossos heróis contada por professores, historiadores, leitura de livros didáticos, e, principalmente em épocas comemorativas que permeiam a independência brasileira, a proclamação da república, a inconfidência mineira, o fim da escravidão negra, o descobrimento, etc.

O que pouca gente sabe, porém, é que muitas versões desses acontecimentos do passado e heróis neles retratados, foram moldados de acordo com interesses pessoais ou decisões políticas da época que ajudaram a rechear a história de fraudes e mentiras absorvidas ao longo do tempo.

A letra do nosso hino nacional diz por exemplo de forma poética, que “as margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico e o sol da liberdade brilhou no céu da Pátria nesse instante”, dado por Dom Pedro I no dia 7 de setembro de 1822 para significar a proclamação da independência de Portugal e tornar o Brasil um Estado Nacional – fato ocorrido há 195 anos.

Alguns historiadores e estudiosos como o jornalista Pedro Laurentino Gomes e a professora de história Marina Carvalho, afirmam porém que a cena e os personagens desse “instante” fixado em nosso imaginário, não foram retratados com fidelidade no quadro eternizado pelo escritor e pintor Pedro Américo de Figueiredo.

Segundo relata Pedro Laurentino em sua trilogia (1808-1822-1889), a famosa cena real do 7 de setembro de 1822 é “bucólica” e mais brasileira do que a retratada por Pedro Américo, pois na ocasião o imperador, na verdade, montava um animal de carga (mula) e não usava uniforme militar; não estava vestido como um príncipe real e sim como um tropeiro” (condutor de mulas, gado ou éguas) – prática muito comum no Brasil a partir do século XVII.

Quanto a discussão em torno da dor de barriga que o imperador teria sentido no momento do grito, isso era verdade em razão de alimento estragado que teria comido no litoral paulista, antes de viajar para o Rio de Janeiro, causando-lhe “desinteria”, ou como na expressão vulgar do nordestino: “caganeira”.

Outro detalhe que não condiz com a verdade mostrado no quadro (pintado 66 anos depois) é o uniforme da guarda de honra que cerca Dom Pedro às margens do rio Ipiranga no momento do grito de “Independência ou Morte”, uma vez que os Dragões da Independência com aquele uniforme ainda não existiam, pois somente no desfile de comemoração do 7 de setembro de 1927 é que ele foi usado pela primeira vez, ou seja, 105 anos depois.

Comemoração no dia 7 de setembro.

Segundo Laurentino Gomes, a grande discussão da época era saber se a independência do Brasil deveria ser comemorada em 7 de setembro, 12 de outubro (dia da aclamação de Dom Pedro I) ou 1º de dezembro (dia da coroação).

A professora Marina Carvalho, por sua vez, afirma que “falar que a independência foi historicamente celebrada desde sua implantação é outro mito, pois somente no dia 7 de setembro do segundo reinado, quando o comando do Estado brasileiro é exercido por Dom Pedro II, é que ela passa a ser exaltada”.

Seja como for, neste 7 de setembro de 2017, o que mais importa não são as críticas e discussões da comunidade intelectual por trás de mitos, contradições, fantasias ou mentiras ligados ao processo de emancipação do Brasil; o que mais importa, agora, é compreendermos melhor o passado e talhar os caminhos que nos ajudem a recontar a história deste país de muitas realidades.

Desembargador Valério Chaves

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