Imagine você andando pela rua e encontrando um pedaço de madeira. Você olha para ele e visualiza uma luminária. Mais que isso, você imagina uma luminária para homenagear seu animal de estimação. E vai além…visualiza naquele objeto jogado ao lixo um presente para sua filha. 

 

É exatamente assim o mundo dos inventores, que com uma junção de curiosidade, técnica, dedicação, talento e disciplina tornam os seus dias melhores, mesmo tendo um ambiente de trabalho extremamente formal. 

 

E é quando deixa o ambiente formal de trabalho, na Secretaria de Tecnologia da Informação do Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI), que o secretário da pasta Assis Campos dá vida ao seu lado inventor, de artista com as serras e formões nas mãos, capaz de fazer surgir, restaurar e viajar em um mundo só dele, muito íntimo, mas que aceitou dividir com o projeto “Talentos do TJ-PI”.

 

Ao abrir as portas do seu ateliê, ou como prefere chamar, sua ’oficina americana’, o Secretário de TI larga as formalidades. Sistemas, bits, programas, redes, computadores, backup, cookies, internet…toda essa linguagem técnica sai de cena e o vocabulário usado é bem menos complicado, ao menos para um amante da marcenaria, ou das serrarias.

Os cabelos brancos de Assis Campos revelam sua experiência de vida. Quem conversa com esse teresinense, que viu essa cidade se desenvolver, percebe logo que ele traz consigo muito aprendizado e conhecimento. Uma formação iniciada pelos ensinamentos do pai, que se completou na academia, e que se realiza a cada dia, quando inventa algo novo. Assim se fez marceneiro-inventor, um apaixonado pela engenharia, o que lhe permite inventar os objetos mais inusitados.

 

Lembrar de suas inspirações é voltar no tempo, é recordar a convivência com o pai, onde em uma serraria, teve seu primeiro contato com o apaixonante cheiro da madeira.

 

“Minhas primeiras lembranças são de uma serraria nos fundos da casa de um tio meu, na rua Félix Pacheco. Eu era moleque e andava por Teresina toda e adorava o barulho da serra cortando a madeira. Isso me fascinava. Mas o que marcou mesmo foi o cheiro da madeira, o aroma de um pedaço de cedro sendo cortado…um cheiro que ainda hoje lembro e que muitas vezes são encontrados em muito perfumes. Os chamados perfumes amadeirados. Lembro-me que nessa época eu devia ter seis para sete anos de idade e o meu pai estava ampliando a casa, então, eu passava o dia inteiro lá com ele e ia vendo as tábuas sendo cortadas. Eu fiquei fascinado com tudo aquilo, Desde então, tudo isso passou a fazer parte de minha vida. Tanto é que as minhas cartas para o papai noel eram, acreditem, pedindo estojo de carpinteiro para que eu brincasse com as ferramentas. Eu já adorava esse negócio de usar ferramenta para fazer seja o que fosse. Eu queria era transformar algo em alguma coisa. Era contagiante transformar um pedaço de madeira em uma janela, por exemplo”, afirma Assis Campos.

                                                                                                                                  Assis Campos conta que nem mesmo o perigo de se cortar com as serras afiadas o tiravam daquele local, onde ficava fascinado e ajudava o seu pai. “Eu ficava lá e ia serrando. Pegava um pedaço de madeira e colocava para cortar. Não tinha a técnica, mas tinha o desejo de aprender”, pontua.

Com um antigo marceneiro chamado seu Anísio, a quem definiu como mestre, aprendeu a manusear as ferramentas, a afiá-las. Soma-se ao desejo imperativo de lidar com as serras o gosto pela leitura. Ao ler, por exemplo, a revista Mecânica Popular, Assis Campos conheceu o mundo teórico, os ensinamentos nesta área. “Com o mestre Anísio aprendi muito e comecei a perceber a importância de saber ensinar algo a alguém, o que hoje, no meu trabalho, repasso aos servidores que lá chegam sem experiência”, diz.

Saber o que tinha dentro das coisas e como elas funcionavam. Essa era uma das maiores curiosidades do pequeno Assis Campos, que aos 7 anos já encarava seu primeiro desafio: desmontar e montar um rádio inteiro. E o desafio foi concluído com sucesso, como um download que chega aos 100%.

 

Depois de uma longa conversa em seu jardim, Assis Campos apresentou o que chamaremos de ’inventório’. Uma espécie de ’oficina americana’, onde toda sua criatividade ganha forma, onde os pensamentos, ainda vagos, ganham solidez, onde sua realização acontece e onde o stress do cotidiano fica de lado. Local onde Assis Campos é capaz de inventar, restaurar e fazer os mais inimagináveis objetos.

Os trabalhos de Assis Campos são inúmeros. Janelas, mesas, portas, brinquedos…Enfim, uma infinidade. Diante das tantas opções, Assis Campos resolveu contar a história da “Lumenária”, uma cachorrinha de madeira feita com muito carinho, dedicação e que tem sido muito útil, ainda mais por ter um significado especial para a família.

 

“Minha filha gosta de estudar aqui em casa e pediu uma luminária. Logo ali pensei no presente e na homenagem. Procurei a madeira que pudesse preparar as tábuas. Providenciei parafusos, peças, tudo, e comecei a montar. Fiz, então, a Lumenária, uma cachorra de madeira que funciona como luminária para minha filha estudar. Além do presente para ela, homenageamos nossa cachorrinha Lúmen, que é o mimo da casa”, explica Assis Campos, segurando as duas cachorrinhas, que têm o mesmo, digamos, formato. 

Para a mente de um inventor tudo é motivo para se preparar algo e quando este desafio é fazer um quebra-cabeça para animar os aniversários e festas da família, aí a inspiração é em dobro.

 

Nos inventos de Assis, um repertório variado de artes de madeira, frutos de uma criatividade tamanha, capaz de deixar netos, sobrinhos e amigos paralisados por horas, só para tentar resolver um enigma

 

“Os quebra-cabeças são outro hobby dentro deste processo de invenção que adoro. Eu vejo as peças de madeira, olho-as atentamente e imagino o que preparar. Então, com o uso minucioso das diversas ferramentas que tenho, vou montando, formando o objeto, que quando pronto logo se torna motivo de amor e ódio por parte de quem consegue decifrá-lo e quem não consegue. É tudo muito prazeroso”, evidencia Assis Campos.

MÃOZINHA AMIGA

Os talentos de Assis Campos vão além de inventar. No cardápio, muitas restaurações de objetos antigos da família. Uns até com quase 100 anos.

 

“É comum eu receber aquele pedido para a restauração de um móvel de alguém da família, de amigos, todos sabem que eu gosto muito de tudo isso e para eles é uma forma até de me ajudar. São cadeiras, pianos, mesas, máquinas, toca-discos. Tudo o que é curioso me desperta a atenção e faço como terapia. Sou muito feliz por viver cada momento aqui na minha oficina americana”, diz.

Depois de quase 2 horas de conversa e de muitas descobertas Assis Campos põe um ponto e vírgula em seus depoimentos e no relato de suas histórias. Isso porque um ponto final ainda vai demorar muito.

 

“Tudo isso tem sido muito importante em meu trabalho. Chegar em casa e relaxar ao som de uma serra me faz bem. Recupero a energia para no dia seguinte estar firme no TJ-PI, levando conhecimento e experiência à gestão e dessa forma repassando um pouco do que tenho vivido e aprendido nos muitos anos na administração pública. Viver tudo isso me faz bem e me torna uma pessoa melhor, capaz de produzir mais, fazendo me sentir também parte deste Poder, tão importante para a sociedade piauiense”, conclui Assis campos, Secretário (Inventor) de TI, do TJ-PI.

 

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